terça-feira, 7 de setembro de 2010

Quem vende seu voto?

Recentemente fui encorajado a um debate acerca da compra de votos e os princípios envolvidos, tanto egoístas quanto ideológicos e filosóficos. Louvemos primeiramente os fatos para que o leitor entenda os motivos que me fizeram ingressar em um debate.

Iniciou-se no dia anterior uma prévia do que estava por vir. Na televisão um programa popular de humor tratava de um assunto um tanto quanto polêmico e que envolve o egoísmo de muitos, a esperteza de outros e o ideal politicamente correto de outros tantos a respeito da compra de votos por políticos de todas as espécies e as respectivas pessoas que aceitam sua compra. Apesar de muito bem feita, a matéria abordou o tema unicamente como se existissem apenas duas possibilidades para a compra de votos, a de aceitar e a de não aceitar, mas não incluiu as variáveis, na qual eu me considero fiel participante. No dia seguinte uma matéria em um jornal falava de um candidato que comprou votos de uma mulher por R$ 110,00 e uma cesta básica, na qual soltei quase que involuntariamente a expressão: “eu faria o mesmo”, ou seja, assim como a mulher eu também venderia meu voto por um preço seja lá qual for.

A partir de minha afirmação anterior que fui contrariado no sentido de que não teria princípios caso aceitasse vender meus votos. Logo expus com mais clareza meu pensamento: o candidato X pode me oferecer o mundo em troca de meu voto, mas atualmente o Brasil é regido por uma constituição que permite o voto secreto, pois então, o que garante o meu voto no candidato X no dia da eleição? Eu poderia claramente votar no Y e sair com o produto oferecido por X.

Mas para leitores apressados e desatentos, podem vir achar que a questão de compra de voto se resume a isso, onde você aceitaria se corromper, mas nada garantiria se essa corrupção era uma farsa ou não. É então ai que entra os princípios, o lado racional da coisa. Veja bem, imagine se um Policial Federal apreende um grande traficante e este lhe oferece um milhão em troca da sua liberdade, dai então o policial aceita a propina e ainda prende o traficante que vai para a cadeia. Estaria certo? Estaria errado? Na minha concepção, estaria errado, pois não existe uma garantia da procedência desse dinheiro, tendo em vista que é dinheiro do crime, também a falta da acusação de tentativa de suborno poderia diminuir a pena do traficante, a Justiça não seria feita e todo nosso Direito perderia o sentido, além de ser uma medida imoral do policial e até mesmo contra os princípios da corporação da qual trabalha.

Não convencido? Imagine então um preso no corredor da morte e que passa um dia antes de sua execução por uma terrível parada cardíaca. O médico que o atende, ele poderia deixar de salvar o preso? Afinal o mesmo irá morrer no dia seguinte, ou o médico deve seguir seu juramento e os princípios de sua área e os princípios da Justiça? O medico muito provavelmente irá salvar o preso para que a Justiça tome seu curso natural.

Talvez aceitar a compra de voto naquele momento seja hipocrisia. Afinal naquele momento a pessoa que “aceita” ter seu voto comprado, deverá sorrir para o candidato, apertar sua mão e dizer que vai votar nele, traindo naquele momento sua ideologia. Imagine essa situação no dia a dia, onde numa empresa você deixaria de ter sua própria opinião para aceitar a opinião de outros enquanto na verdade não pensa realmente daquela forma. Popularmente te chamariam de duas caras ou de medroso, ou até mesmo de sem opinião própria não é mesmo?

Mas onde eu quero chegar com isso? Que, tanto aceitando a propina e no dia da votação você escolher outro candidato, quanto não aceitar e fazer um escândalo na hora, ambas as posições são corretas e nobres. A única diferença é que ao não aceitar e denunciar na mesma hora, a pessoa está agindo racionalmente e legalmente, enquanto no caso de aceitar e depois não votar a pessoa estaria agindo emocionalmente, no sentido de vingança. Pois veja bem, diferente do caso do traficante, ao fazer o político X perder a eleição, eu estaria me vingando dele. Ele quis me enganar, quis me persuadir ilegalmente e eu ao fingir que aceitei, acabei causando o efeito reverso na hora da eleição, ou seja, eu o deixei na mão quando mais precisava de mim e pior, ele acreditava que tinha me comprado. Simplesmente me vinguei, fiz uma espécie de justiça com as próprias mãos ao não eleger o político X. É preciso entender que os dois jeitos podem ser considerados corretos, um racional e outro emocional, o que quero esclarecer é que tenho consciência dos dois pontos de vistas e simplesmente optei por lutar contra a compra de votos de uma forma mais vingativa e pessoal do que da forma estabelecida pela Justiça Eleitoral.

E não feliz com a afirmação de que ambos os casos estão certos, coloco um exemplo prático na situação. Imagine uma mulher que tem por principio fazer sexo somente após o casamento e que nunca deu pra ninguém e num belo dia andando pela Praça da Sé de minissaia às 2 da manhã ela é estuprada por um cheirador de cola. Ela pode tanto facilitar para o delinquente de forma a preservar sua própria vida, como ela pode resistir e acabar sendo morta e mantendo seu princípio. A questão é, tanto de uma forma quanto de outra, é respeitável a decisão da moça, se ela facilitar fez isso por um bem maior, sua própria vida, se ela resistir, fez isso porque era inaceitável para a mesma dar pra alguém antes de se casar. Talvez nesta situação o cheirador de cola devesse pedi-la em casamento de joelhos antes de estupra-la.


Avante!

Um comentário:

  1. Como sempre polêmico....
    Pegou pesado no último parágrafo hein uhuhauhha
    Então eu penso da mesma maneira que você.... vc vendendo o voto prejudicaria 2 vezes o politico: uma ele nao teria um voto e 2 pq ele ainda perderia dinheiro...
    ah se eu achasse um que comprasse o meu hheheheh
    =*

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